As ruas movimentadas do centro da cidade de Barra do Garças, Mato Grosso, são cenário de diferentes realidades. De um lado o comércio, os pontos turísticos, com cachoeiras e parques, do outro um retrato que não aparece no cartão postal, a exploração sexual. É invisível aos olhos da sociedade, mas todos sabem uma história, escutam algum comentário ou conhecem uma vítima.

Um fenômeno social com diferentes lados. Para a polícia a exploração sexual infantil é um crime, para os cidadãos uma vergonha e para as vítimas uma forma de ganhar dinheiro. Complicado esclarecer a lógica das vertentes que levam à exploração sexual na cidade, assim como evidenciar a forma em que as pessoas envolvidas entram nesse círculo.

O motivo pode ser qualquer um ou pode ser o extremo que cause a colisão de diferentes pontos de vista. Dentro dessa realidade -- que é invisível, mas que todos a conhecem -- é comum se deparar com diferentes casos, vítimas a procura de uma mudança de vida e, por conta disso, fazem escolhas sem muitas alternativas

Diante das vítimas distribuídas entre criptografias de IPs e endereços de hotéis, podemos encontrar uma diversidade milimetricamente discriminada, formando um catálogo prazeroso para os gostos mais cruéis e exóticos: crianças (ou "bezerrinhas", como falam os agenciadores) , maduras, brancas, negras, indígenas, inexperientes ou experientes"

As razões vão desde a falta de dinheiro para comprar remédios, material escolar ou comida. Quase sempre há pobreza. Encaixar-se dentro do universo de consumo não é fácil. As meninas que o digam! O desejo pode ser tanto que ao consumi-lo é na verdade consumida por ele.

Há diversas formas de se tornar mais uma peça desse quebra-cabeça. Às vezes até sem querer, mas sempre há um rastro, mesmo que digital. Ele pode começar virtualmente, com distribuição de fotos, vídeos, mensagens, telefonemas ou um comentário entre amigos do tipo: "Você está precisando de dinheiro? Conheço alguém que pode ajudar".

No fim, o importante é ascender nas condições de consumo desta sociedade transtornada que, como diz Kafka, tudo estala e racha como o equipamento de um veleiro destroçado.

Uma coisa pode ser constatada: aonde se encontra uma vítima, há tantas da mesma realidade. E, até mesmo dentro desse universo considerado sujo, entre a sociedade, existe solidariedade. O que a maioria delas querem, é sair deste círculo repetitivo de exploração sexual e ter um pouco de proteção, aquela na qual não foi possível de encontrar no berço familiar.

Cartaz da campanha contra a exploração e o abuso sexual infantil
Cartaz da campanha contra a exploração e o abuso sexual infantil

Uma coisa é constante. Todas são pobres, tanto de dinheiro quanto de assistência. A constância cria um laço de solidariedade, um tipo de respaldo que somente elas poderiam explicar.

Agora imaginem só. Diante das vítimas distribuídas entre criptografias de IPs e endereços de hotéis, podemos encontrar uma diversidade milimetricamente discriminada, formando um catálogo prazeroso para os gostos mais cruéis e exóticos: crianças (ou "bezerrinhas", como falam os agenciadores), maduras, brancas, negras, indígenas, inexperientes ou experientes.

Seguindo os rastros virtuais, encontram-se também culpados de todos os tipos: novos, velhos, empresários, taxistas ou drogados, todos dispostos a explorar um universo construído por falta de assistência. Ao se encontrarem nesse meio, os agenciadores montam um quebra-cabeça nas ruas da cidade de Barra do Garças. Um quebra-cabeça que não é evidente, mas existe bem próximo dos olhos da sociedade.

Portanto, caro leitor(a), somos inteiramente movidos por este quebra-cabeça que atravessa a cidade de ponta-a-ponta e pela percepção jornalística em compreender a centralidade das novas tecnologias de informação e comunicação no agenciamento sexual de crianças e adolescentes.

O material contido nesta reportagem é fruto de entrevistas com fontes oficiais, com pessoas envolvidas e outras que participam como observadoras secundárias da exploração sexual. Mas também é fruto de nossa intensa apuração e observação. Colhemos dados, estatísticas e documentos que estão disponíveis ao leitor(a).

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